Hoje lá pelas 4h da manhã (16h de ontem ai no Brasil), chegamos ao local onde será feita a perfuração.
Muita gente esta
curiosa sobre como será feita a perfuração, portanto este tópico vai tentar
esclarecer algumas coisas.
Quando definirem o
local exato de perfuração, começará o processo de amostragem das rochas, onde (grosseiramente
falando) uma imensa coluna (a coluna de perfuração) sai do navio atravessando
mais de 4 mil metros de água para chegar até o assoalho do oceano, ou seja,
onde estão as rochas que a gente tanto quer analisar.
O processo que será
feito para a perfuração das rochas se assemelha ao processo que você faz em
casa para fazer um furo na parede com uma furadeira. Porém ao invés da broca
maciça que você usa, nós usamos uma coluna gigantesca e oca com uma broca na
ponta (também oca), para que a gente possa recuperar a amostra de rocha (que
chamamos de “testemunho”). Conforme a broca vai recortando a rocha, o
testemunho preenche um tubo que é colocado dentro da coluna de perfuração. A
cada nove metros de testemunhagem, o material é puxado para a superfície por
meio de cabos de aço.
Esses testemunhos,
que chegam à superfície como um cilindro de rocha, são cortados em pedaços
menores (a cada 1,5 metros) e então são levados para o pessoal descrever que
tipos de rocha o compõem. Nós paleontólogos recebemos a parte final destes nove
metros de rocha para analisar o conteúdo fossilífero da amostra.
Aí que entra o meu
trabalho. Eu estudo (como já disse num dos primeiros tópicos) um grupo composto
principalmente por algas microscópicas chamado nanofósseis calcários. Este
grupo é muito importante, pois dentre outras coisas dá uma idade para as rochas que
estão sendo analisadas. Estes organismos evoluíam muito rápido, ou seja, eles “nasciam”
e “morriam” num espaço de tempo geológico muito curto, desta forma se eu
estiver analisando uma amostra e encontrar determinada espécie eu seu que estou
dentro de um período de tempo bem limitado na história da Terra.
A grosso modo, é a
mesma coisa que uma pessoa, daqui a
alguns milhões de anos, analisar fotos da história da humanidade. Se essa pessoa receber uma foto e visualizar (por
exemplo) Albert Eistein, ela vai saber que essa foto foi tirada dentro do
intervalo de tempo em que ele viveu (entre 1879 e 1955). No nosso caso, a gente
sabe por meio de diversos tipos de datações quando as espécies viveram,
desta forma a gente pode indicar a quanto tempo atrás as rochas se
depositaram. Sendo assim todas as análises que vierem depois estarão colocadas
dentro de um intervalo de tempo e assim vamos contando a história do nosso
planeta, um pouco de cada vez, hoje aqui próximo do Japão, amanhã quem sabe
próximo da sua casa (heheheheheheh).
PS: Pretendo criar um tópico maior mais tarde sobre este tema, falando um pouco mais sobre o passo a passo para coleta das amostras e para a análise.