sexta-feira, 6 de junho de 2014

Como é feita a perfuração.

Hoje lá pelas 4h da manhã (16h de ontem ai no Brasil), chegamos ao local onde será feita a perfuração.

Muita gente esta curiosa sobre como será feita a perfuração, portanto este tópico vai tentar esclarecer algumas coisas. 
Quando definirem o local exato de perfuração, começará o processo de amostragem das rochas, onde (grosseiramente falando) uma imensa coluna (a coluna de perfuração) sai do navio atravessando mais de 4 mil metros de água para chegar até o assoalho do oceano, ou seja, onde estão as rochas que a gente tanto quer analisar.
O processo que será feito para a perfuração das rochas se assemelha ao processo que você faz em casa para fazer um furo na parede com uma furadeira. Porém ao invés da broca maciça que você usa, nós usamos uma coluna gigantesca e oca com uma broca na ponta (também oca), para que a gente possa recuperar a amostra de rocha (que chamamos de “testemunho”). Conforme a broca vai recortando a rocha, o testemunho preenche um tubo que é colocado dentro da coluna de perfuração. A cada nove metros de testemunhagem, o material é puxado para a superfície por meio de cabos de aço.
Esses testemunhos, que chegam à superfície como um cilindro de rocha, são cortados em pedaços menores (a cada 1,5 metros) e então são levados para o pessoal descrever que tipos de rocha o compõem. Nós paleontólogos recebemos a parte final destes nove metros de rocha para analisar o conteúdo fossilífero da amostra.
Aí que entra o meu trabalho. Eu estudo (como já disse num dos primeiros tópicos) um grupo composto principalmente por algas microscópicas chamado nanofósseis calcários. Este grupo é muito importante, pois dentre outras coisas dá uma idade para as rochas que estão sendo analisadas. Estes organismos evoluíam muito rápido, ou seja, eles “nasciam” e “morriam” num espaço de tempo geológico muito curto, desta forma se eu estiver analisando uma amostra e encontrar determinada espécie eu seu que estou dentro de um período de tempo bem limitado na história da Terra.
A grosso modo, é a mesma coisa que uma pessoa, daqui a alguns milhões de anos, analisar fotos da história da humanidade. Se essa pessoa receber uma foto e visualizar (por exemplo) Albert Eistein, ela vai saber que essa foto foi tirada dentro do intervalo de tempo em que ele viveu (entre 1879 e 1955). No nosso caso, a gente sabe por meio de diversos tipos de datações quando as espécies viveram, desta forma a gente pode indicar a quanto tempo atrás as rochas se depositaram. Sendo assim todas as análises que vierem depois estarão colocadas dentro de um intervalo de tempo e assim vamos contando a história do nosso planeta, um pouco de cada vez, hoje aqui próximo do Japão, amanhã quem sabe próximo da sua casa (heheheheheheh).
PS: Pretendo criar um tópico maior mais tarde sobre este tema, falando um pouco mais sobre o passo a passo para coleta das amostras e para a análise.

3 comentários:

  1. Rodrigo, estudei alguns anos de engenharia e lembro de uma disciplina de geologia lá da Unisinos. Não Terminei esse curso acabei indo para outra área. Porém uma pergunta sempre guardei, lembro de ter estudado estas perfurações, por cima durante uma ou duas aulas. Sabia como eram feitas as perfurações, acho que na época estavam perfurado no gelo segundo meu ex mestre. Enfim o que não lembro ou não aprendi foi como é que é quebrado o cilindro para poder ser içado? Não deve ser nada muito complicado mas você pode esclarecer? Abraço e boas perfurações e análises. Tito, Seoul - South of Korea

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  2. E ai Tito, blz? Grande pergunta! Junto com a broca e a coluna de perfuracao desce o grande tubo (que e preencuido pelo testemunho) e um tubo menor na ponta com uma peca chamada "Core Catcher". Essa peca + tubo menor mede cerca de 30cm e quando a perfuracao termina o core catcher fecha cortando a base do testemunho e aprisionando dentro do tubo maior. E meio dificil de entender falando assim, vou tentar bater umas fotos e criar um post sobre isso. Abraco

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  3. Quanta honra, Rodrigo!!! Sempre que posso ouço os comentários do Tito no programa da Beatriz Fagundes... Mas minha esposa sempre ouve!
    Viva Carlos Barbosa!!!! A terra com a faca e o queijo na mão!
    Lucio Tokutake

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